Ao meditar sobre o que leva o homem a se afastar da vida religiosa e espiritual, questiona-se a razão pela qual isso acontece. De diversos motivos, existe uma via importante a se explorar: o esquecimento do pecado, do mal, e suas consequências.
Inicialmente deve-se lembrar que
foi através pecado original que o homem traiu a vontade divina. Isso porque
Deus garantiu ao homem a razão, a consciência, a liberdade, cujo pensar, julgar
e agir o possibilitam aderir ao Seu plano ou a outros distintos.
Frans Floris (1517-1570) |
Após esta queda, Deus continuou a guiar e a amar seu povo, fazendo-lhe promessas e dando-lhe leis para que pudessem se reconciliar com Ele. Exemplo disto são os Dez Mandamentos.
Estas ordenações dadas por Deus
são de forte conteúdo moral, que orientam as práticas da vida. Se Deus é o Sumo
Bem, tudo o que vem dele é Bom, é Luz. Afastar-se desta Luz, que é a Verdade, é
rumar à escuridão, ao mal, ao pecado.
Afastar-se da vida religiosa e
espiritual é, antes, deixar-se perder a luz, e perder a noção do que vem a ser
o mal e o pecado.
Ora, mas que mal e que pecado
pode ter cometido o homem ao comer um mero fruto? De fato o mal e o pecado
entram com esta suavidade, de maneira imperceptível.
O julgar, o pensar e o agir do
homem, ao invés de seguirem a orientação do alto, seguem agora outro
julgamento: o da ciência, daquilo que é possível provar. Ora, “que fruto
gostoso, só me senti mais dono de mim – posso e quero mais”. E é justamente
este o gosto inicial do mal e do pecado, eles seduzem o homem.
A exemplo: comer pouco não mata a
fome, mas é difícil achar o meio termo no comer. A grande disponibilidade de
alimentos geralmente faz com que se coma além do necessário. O que era a justa medida agora passa a ser um desvio;
dormir é necessário, mas costuma-se nos dias de hoje dormir pouco, o que gera
ira, ou dormir demais, que leva à preguiça.
É interessante notar que o gozo
inicial do comer e do dormir, apenas para se fixar nos exemplos, não são
pecados em si mesmo. Porém, como parece claro, ambos possuem limites.
Assim o é com a sexualidade. Deve
ser vivida de acordo com a lei divina dentro do casamento, jamais fora ou com
impurezas pessoais.
Então esta via que inicialmente é
lícita acaba por se tornar ilícita, por desafiar os mandamentos. E nisso se
afasta responsabilidade pessoal, porque a aparência é de que não há qualquer
pecado. Pensa-se que está tudo bem.
Tomás de Kempis, em A Imitação de
Cristo, reforça que nem tudo que é agradável é bom, nem todo desejo é puro, nem
todo que nos deleita agrada a Deus.
É aí que o homem automaticamente
se vê como um ente que já não precisa mais se ordenar pelas leis de Deus, já
que tudo lhe é lícito. O Apóstolo Paulo deixa claro, porém, que “Tudo me é
permitido, mas nem tudo convém” (1Cor 6, 12).
Perdido o discernimento do pecado,
do mal, o agir mal repete-se e torne-se um vício, obscurecendo a consciência. O
Papa Paulo VI disse certa vez que o pior pecado deste mundo é achar que o
pecado não existe.
Então decorre um compreensível
afastamento da Igreja já que esta não mais governa o homem. A submissão deixa
de existir, pois ele se arroga no direito de não necessitar mais desta orientação,
podendo-se conduzir sozinho.
Este esfriar da espiritualidade, então,
só pode ser afastado com a retomada do seguimento da Lei em vistas de que
apenas na Igreja há salvação. E não só isto! O inferno é uma realidade
confirmada por Jesus Cristo, da qual se deve maximamente se afastar.
O juízo final (1535-1541) Afresco de Michelangelo na Capela Sistina no Vaticano |
Para isto, a receita é compreender que o projeto de Deus para a humanidade não está só no plano material e, ainda que assim entendido, as leis divinas servem não para restringir as potencialidades humanas, mas para dar base ao seu desenvolvimento.
Tal ventura, segundo Jesus, é
razão de alegria! Seu jugo é suave e seu fardo é leve!